A Jornada do Herói e a Jornada da Heroína - guia definitivo para autores!

jornada do herói

A criação de personagens envolventes e histórias cativantes é o marco central para qualquer escritor. Uma das estruturas narrativas mais populares do mundo é a Jornada do Herói, quer saber mais? Vem com a gente! 

Desenvolvida por Joseph Campbell, em seu livro “O Herói de Mil Faces”, ela descreve um padrão de narrativa que muitas histórias seguem. Jornada do Herói é um conceito narrativo amplamente utilizado na literatura, no cinema e em outras formas de mídia. 

Ele descreve a estrutura básica de uma história, na qual um herói embarca em uma jornada desafiadora, enfrentando obstáculos e passando por transformações pessoais.

No entanto, com a crescente demanda por representação e diversidade, o papel das heroínas também se tornou cada vez mais importante, e a Jornada da Heroína emergiu como uma narrativa poderosa e inspiradora. Afinal, as experiências e os desafios enfrentados pelas heroínas podem ser diferentes, e é fundamental reconhecer e explorar essas diferenças para promover a representação igualitária na narrativa.

Compreendendo a Jornada do Herói 

A Jornada do Herói é também conhecida como “monomito”, um modelo de narratologia e mitologia comparada, que forma uma estrutura narrativa, usada em obras cinematográficas e literárias. Em resumo, é uma maneira de criar um storytelling. 

Trata de um personagem central de quem algo ou alguém foi tirado, que embarca em uma aventura, precisa superar a si e aos obstáculos para recuperar o que perdeu, ou descobrir algo novo em si mesmo. O ponto é que o personagem não volta como saiu. No livro “O Herói de Mil Faces” Campbell destaca: 

“A aventura usual do herói começa com alguém de quem algo foi tirado, ou que sente que falta algo na experiência normal disponível ou permitida aos membros da sociedade. A pessoa, então, embarca em uma série de aventuras além do comum, seja para recuperar o que foi perdido ou para descobrir algum elixir que dá vida. Geralmente é um ciclo, uma vinda e uma volta.”

A gente pode dizer que o herói da história seguirá uma linha de jornada, um ponto comum que o levará a um caminho, e ele voltará diferente numa conclusão épica. Você já viu muitas vezes esse método em uso, talvez não tenha se dado conta, mas é comum na construção de boas aventuras, como Harry em Harry Potter, Frodo Bolseiro em O Senhor dos Anéis, Luke Skywalker em Star Wars, Simba em O Rei Leão, Woody e os brinquedos em Toy Story e tantos outros. 

A jornada tem uma divisão que, em geral, compreende 12 etapas, divididas em três atos. Os atos, você provavelmente já conhece, começo, meio e fim de uma história. As 12 etapas podem ser descritas como fases, cada fase leva a outra e empurram a história para frente, auxiliando o leitor a se conectar com o herói e com a mensagem central do texto. Bora ver um pouco mais sobre essa estrutura? 

Estrutura da Jornada do Herói

As fases representam passos ou estágios que o personagem principal seguirá em sua construção narrativa. Ele partirá de um ponto para voltar a este mesmo ponto, mas o retorno precisa ser grandioso ou diferenciado de sua partida. 

Acompanhe: 

Saída do comum: aquele momento no qual o herói percebe que seu mundo perfeito não é mais o mesmo. 

Chamado à aventura: o momento de convocação. Neste ponto é preciso criar um impacto que impulsione o herói a partir e leve o leitor ao interesse em acompanhar cada passo seguinte. 

Recusa do chamado: aquela pequena crise de consciência ou hesitação, causada pelo medo do desconhecido. Cuidado para não pesar a mão no drama e acabar dando ao leitor a impressão que seu herói é só mais um chato. 

Encontro com o mentor: o mentor é a prova que o problema, que aparece no chamado, pode ser resolvido. Esse mentor empurrará o herói para seguir em frente. Ele é necessário para dar impulso e ajudar no preparo do que virá. Será uma espécie de guia. 

Travessia do limiar: sabe quando passa do limite? Então! Esse é o momento no qual o herói passa por seus primeiros desafios, entra em um novo reino e começa a lidar com situações, como a revelação de um segredo, a descoberta de uma habilidade e de um ponto importante de sua história, mudança de lugares, viagens. 

Testes, aliados e inimigos: O herói encontra aliados para aumentar suas forças e inimigos para enfrentar, eles servem como uma preparação para o último combate. Moldam o herói. 

Aproximação da caverna oculta: um momento antes do embate, onde o herói se volta para os seus medos e questionamentos iniciais. Ele entra em um conflito interior. É uma pausa usada para aumentar o tom do clímax do confronto que virá.

Provação suprema: esse é o obstáculo de maior potência. É um marco crucial na história, o clímax de toda a construção. 

Recompensa: ao superar o desafio, o herói atinge seu alvo e merece receber a sua recompensa. Aqui é preciso criar comoção com a vitória. 

Ressurgir: período onde pode-se colocar um pequeno desafio para “testar” o aprendizado e maturidade do herói. Nesse ponto, alguns encaixam a Ressurreição, um estágio onde o inimigo ressurge para um embate final, mas com menor impacto, pois o herói está pronto. 

Retorno e transformação: Retorno: caminho de volta ao mundo inicial, a diferença é que o herói passou por uma grande transformação. Essa volta permite que o leitor entenda o significado da jornada e dá uma sensação de boa conclusão à história. 

Compreendendo a Jornada da Heroína

A Jornada da Heroína surge da necessidade de uma abordagem diferenciada para personagens femininas. Uma construção que fosse baseada nas experiências das mulheres que tiveram papel crucial no desenvolvimento socioeconômico de um mundo predominantemente masculino. 

A nova abordagem nasce em 1990, pelas mãos de Maureen Murdoc, aluna de Campbell, que visou preencher lacunas deixadas na Jornada do Herói para abordar desafios específicos vividos pelas mulheres.  

Maureen percebeu haver necessidade de uma abordagem diferenciada para personagens femininas. Um dos pontos de seu estudo focou-se na inclusão de aspectos psico-espirituais na estrutura criada por Campbell. 

Em tramas estruturadas com a Jornada do Herói, ainda se percebe alguma objetificação ou sexualização de personagens femininas, exatamente como acontecia socialmente quando a estrutura de narrativa foi criada. 

Assim, em 1990 Maureen cria o livro “A Jornada da Heroína”, uma obra que reestrutura elementos com mais empatia às mulheres, considerando aspectos culturais, sociais e envolvendo desafios que as mulheres conhecem intimamente.

Estrutura da Jornada da Heroína 

Pensando nos obstáculos específicos enfrentados por heroínas, como estereótipos, representação limitada, discriminação de gênero, inferiorização e o papel nos relacionamentos. A estrutura traz uma reinterpretação dos estágios da Jornada do Herói para se adequarem à experiência feminina.

Nesses elementos vemos empoderamento, autoafirmação e sagacidade, tão importantes forças para a verdadeira representação do feminino. Essa quebra de estereótipos, cria uma nova expectativa no leitor, permitindo que ele consiga entender a formação da personalidade da heroína positivamente. 

Esse impacto foi muito positivo para a escrita de livros como Lendários – Tracy Deon, Kindred – Octavia Butler, Filha de Sangue e Ossos – Tomi Adeyemi; e para roteiros cinematográficos aclamados, como Jogos Vorazes, Mulher Maravilha, Valente, Resident Evil, Enrolados. 

Os estágios dessa construção são: 

Separação do feminino: aquele afastamento que vem de alguém conformada com a situação ruim, para o momento que a heroína percebe que não deseja o mesmo para si, é o afastamento emocional das amigas, outras mulheres, da mãe, de qualquer pessoa que simbolize esse conformismo no feminino. 

A chamada para a aventura: a motivação interna que impulsiona a heroína em sua jornada. Essa motivação pode vir das barreiras que a heroína percebe em seu meio social na narrativa. 

Encontro com a mentora: a importância de figuras femininas como guias e modelos.

Identificação com o masculino, empoderamento e autodescoberta: a heroína se torna consciente de seu próprio poder e capacidades. Nesse ponto, a heroína descobre em si uma força masculina para impor aos demais que seu papel será diferente daquele que já lhe é imposto. Ela passará por desafios, não pela trinca casamento, lar, filhos. 

Descoberta dos aliados: no momento que seu papel se rompe e a força de seu treinamento com a mentora aparece, a heroína ganha aliados que enxergam sua força. Com esses laços firmados, a heroína fortalece o seu caminho.

A estrada das provações: essas adversidades não necessariamente vão envolver monstros ou bruxas, mas grandes adversidades que irão ajudar no preparo e transformação da heroína para o seu confronto final. Elena Ferrante costuma usar a estrutura para dar entonação às tramas de suas personagens, como em seu livro Amiga Genial. 

Experimentação do sucesso: o desafio vencido gera um bom sentimento, mas ele não é totalmente satisfatório. Mesmo alcançando o objetivo, os conflitos internos seguem a personagem, ela quer se ver livre, mas se vê acorrentada. 

Nesse momento, algo a leva a descobrir uma elevação de força ou de si mesma, que a faz entender melhor seu caminho e sua própria natureza. 

Transformação e despertar da morte: no estágio que percebe sua força, a personagem entende que não precisa negar seus valores e passa a dar ouvidos à intuição, entende que sua insegurança só a levará ao sucesso temporário, então ela passa a pensar e sentir a transformação e isso a deixa um pouco cética. 

Iniciação de descida à Deusa/Reconciliação: a personagem passa por esse embolo todo de seguir na sua jornada e precisar se ouvir, então isso se aprofunda e ela entende um pouco melhor as escolhas daquelas que ficaram no início do seu caminho, retoma a sua fé e firma sua autenticidade. 

Reconexão com o feminino: acontece no momento que a personagem revê as figuras femininas que divergem de si, pode ser por um novo conselho da mentora, a visita de um antepassado, por estudo e pesquisa, por terapia e mais. É o momento onde a personagem entende a origem da força. 

Curando o conflito entre mãe e filha: o momento onde a personagem ganha uma nova perspectiva sobre o todo. Ela perdoa a mulher como figura destoante. Pode ser simbolizado pelo perdão à mãe, às amigas; pela sintonia com seu passado para entender o presente. 

Curando o conflito entre pai e filha: é quando a personagem percebe que uma visão mais realista do masculino, vai a levar a ver pontos positivos nessa característica. Um bom exemplo desse momento, é na animação Mulan, dos estúdios Disney, no qual a heroína percebe que, mesmo revelada sua identidade, é preciso assumir esse lado em si para salvar a China. 

Integração entre masculino e feminino: momento onde a personagem assume seus lados para realizar o que precisa e tomar conta de sua própria história. 

Diante desse material, a pergunta que surge é: 

Depois de tantos e tantos trabalhos que usaram a Jornada do Herói ou a Jornada da Heroína, como posso criar personagens autênticos?

  1. Faça anotações sobre a personalidade do seu herói ou heroína, dê camadas, crie profundidade. 
  2. Aproveite a oportunidade de criar boas representações, não foque no que já foi criado, foque em criar a sua narrativa.
  3. Examine exemplos de personagens nesses ciclos, aqui no artigo, a gente já citou alguns deles, você pode procurar mais exemplos e fazer anotações do que enxerga deles, dentro da jornada que escolheu trabalhar. 
  4. Explore a diversidade e a inclusão. 
  5. Construa um mundo narrativo realista e coerente.
  6. Com base em suas anotações e testes, desenvolva personagens complexos e multifacetados.
  7. Crie desafios significativos e que provoquem crescimento pessoal.

Mas atenção: você precisa trabalhar o equilíbrio na criação dessas personalidades únicas, tá? Não force demais a barra da aceitação do leitor, lembre-se que o leitor gosta de ser surpreendido, mas detesta ser feito de bobo. 

A Jornada do Herói e a Jornada da Heroína são estruturas narrativas poderosas que podem te ajudar a criar personagens convincentes e histórias envolventes. 

Compreender os estágios dessas jornadas e aplicá-los de maneira autêntica, resultará em narrativas mais impactantes. Assim, ao publicar um livro, ele será único, mesmo usando estruturas tão bem definidas. 

Escrever um livro não precisa te assustar, com planejamento e uma boa construção, sua obra pode alcançar voos incríveis e leitores apaixonados. Além disso, você sabe que pode contar com a gente na hora de publicar, nosso Portal está te esperando para tornar o seu sonho uma realidade incrível.  

E então, agora que já sabe tudo isso, bora escrever? 🙂

Fontes usadas: A Jornada da Heroína – A busca da mulher para se conectar com o feminino – Maureen Murdock, editora Sextante.  O Herói de Mil Faces – Joseph Campbell, editora Pensamento – selo Coltrix.