Uma viagem pelo universo da economia
“Uma Viagem pelo Universo da Economia” se trata de um livro de divulgação científica de ideias da ciência econômica. Este livro foi elaborado pela equipe de divulgação econômica na internet chamada “Economia Mainstream”, um grupo cujo objetivo é divulgar o conhecimento a respeito de economia, para contribuir com a propagação e expansão da alfabetização econômica no Brasil. Este livro, portanto, é um produto do esforço desta equipe em promover a (boa) ciência econômica.
A quem este livro é direcionado?
A todos. Desde leigos até doutores na matéria. Se você se interessa por economia, então este livro é para você. Talvez leigos no assunto tenham certa dificuldade em entender certas passagens. Mas o livro foi organizado de tal forma que até pessoas que não tenham conhecimento algum de economia consigam absorver grande parte do que aqui está colocado. Experts em economia poderão já saber boa parte do conteúdo presente no livro, mas mesmo eles irão aprender pelo menos algumas coisas ao lê-lo.
Quais os objetivos do livro?
Tornar os seus leitores um pouquinho mais informados a respeito da ciência magnífica que é a economia. É senso comum a ideia de que economia trata somente de finanças — bolsa de valores, investimentos e afins. Finanças é uma parte importante da economia, mas não é mais que isto: uma parte. Ao longo do livro, o leitor vai mergulhar em questões tais como os motivos pelos quais a Inglaterra foi a pioneira na Revolução Industrial, ou então quais foram as consequências econômicas da escravidão no continente americano. São todas questões que vão além das finanças. Na verdade, dentre os 26 ensaios aqui presentes, apenas um deles tangencia o assunto de finanças: o capítulo a respeito do economista que é considerado o “pai” dessa matéria, o grande Harry Markowitz.
Economia, em essência, é a ciência que investiga as consequências provenientes do fato de agentes buscarem certos fins a partir do constrangimento gerado pelos meios, que são escassos. Dado tal constrangimento, escolhas devem ser feitas: os indivíduos devem priorizar certas ações em detrimento de outras. A forma pela qual eles fazem esse elencamento de prioridades pode ser perfeitamente racional (no sentido das preferências serem transitivas e completas), ou então com racionalidade limitada (no sentido de que as escolhas são satisfatórias, mas não necessariamente ótimas), ou ainda de forma irracional, em que as escolhas são intransitivas e/ou incompletas.
De que forma isso está relacionado com aquilo que se entende costumeiramente por economia, i.e., com o gerenciamento do dinheiro? Da seguinte forma: com o dinheiro que as pessoas possuem, elas não conseguem satisfazer todas as suas preferências; assim, elas precisam gastar seu dinheiro naquilo que mais lhes convêm. Precisam, dessa forma, gerenciar seu dinheiro de forma inteligente, para maximizar suas possibilidades de escolha. A área das finanças é justamente a ciência que busca compreender quais são as melhores formas dos indivíduos alocarem seu dinheiro (seus ativos, em geral), dadas suas preferências.
Você pode pensar: pessoas comuns não conseguem satisfazer todas as suas preferências com o dinheiro que elas possuem, mas multibilionários, como Elon Musk ou Bill Gates, com certeza conseguem. Não há dúvidas de que as possibilidades de escolha de Musks da vida são muito maiores do que as do cidadão comum (neste sentido, dinheiro é poder), mas até mesmo Elon Musk precisa priorizar escolhas, dado o orçamento limitado que possui. É bem provável que ele gostaria de construir centenas ou milhares de foguetes do modelo Starship (o maior foguete do mundo), mas a sua restrição orçamentária o impede de fazer isso. É provável também que ele gostaria de colocar uma estação de carregamento de veículos elétricos em cada esquina do mundo. Mas tais decisões não fazem sentido econômico a Musk, pois lhe trariam enormes prejuízos — prejuízos estes que ele não está disposto a incorrer, e daí se segue que até mesmo suas preferências são limitadas por restrição de dinheiro.
Então, caro leitor, agora você sabe que a economia está presente em tudo e se aplica a todas as pessoas: não há ninguém que escapa do difícil problema de privilegiar certas ações em detrimento de outras.
Mas vamos supor que, tal como no mundo fictício de Star Trek, as pessoas vivessem em um ambiente de pós-escassez, que elas não mais enfrentassem restrições de escolha sobre seu consumo. Ainda assim, algumas restrições imanentes ao universo tal como ele é estariam presentes. Em primeiro lugar, você teria a restrição gerada pelo fato de ter apenas um corpo. Desta forma, você teria que decidir onde quer estar, mesmo que possa estar em qualquer lugar que quiser. Por segundo, você teria a restrição proveniente da interação com outros indivíduos — se você quisesse tomar uma ação que dependesse da contribuição de outra pessoa (como formar um par romântico com ela), então você ainda teria a restrição de depender das decisões desta outra pessoa.
Vamos fazer a suposição ainda mais forte de que você viva em um ambiente em que tais restrições sejam superadas. Tal como um ser divino, você pode estar em todos os lugares que lhe convém, e, tal como um formigueiro, todos os agentes possuem perfeita compatibilidade de objetivos. Ainda haveria a restrição mais fundamental de todas: a restrição do tempo. Mesmo você tendo super-poderes e vivendo em uma sociedade utópica, você ainda seria mortal, de modo que, mesmo que pudesse fazer tudo, você não teria tempo de vida suficiente para fazê-lo, e assim teria que decidir entre ações conflitantes.
Poderíamos esticar ainda mais este experimento mental no qual eu estou lhe guiando e supor que fôssemos imortais, fazendo a restrição de tempo se dissolver — mas aí teríamos que supor a violação da 2ª Lei da Termodinâmica (a Lei da Entropia). Multivac, em “The Last Question”, precisou criar um universo do zero para violar tal restrição. Não vamos forçar ainda mais a mão e supor algo tão outlandish aqui.
Portanto, caro leitor, a restrição de tempo é a restrição mais fundamental que você possui. Enquanto você estiver vivo, você precisa decidir sabiamente como gastar o seu tempo. E uma coisa eu lhe garanto: o tempo que você gastará lendo este livro será um tempo extremamente bem alocado. Ao finalizá-lo, você terá a satisfação de saber que utilizou parte do seu precioso tempo em algo que valeu a pena.
Por: Lucas Favaro.