Contemplação I – Universo Particular - Alan Suassuna
Livro: Contemplação I – Universo Particular
Autor(a): Alan Suassuna
O psicanalista Carl Gustav Jung considerava que pintar o que vemos diante de nós é uma arte diferente de pintar o que vemos dentro de nós. A proposta de Alan Suassuna, com esse livro que reúne pintura e poesia – Contemplação I – Universo Particular -, está bem próxima do conceito junguiano, ele pinta o que está no seu interior.
Alan explica como tudo começou. Os anjos surgiram na década de 90 quando estava manipulando um software chamado Paintbrush criando formas geométricas, e eles foram aparecendo de forma constante. Em 2011, recebeu um bloco de papel para pintura de sua Irmã caçula Talita com alguns lápis de pastel oleoso, e foi este presente que acendeu o desejo de continuar pintando anjos.
Os anjos são seres espirituais, portadores de inocência e pureza, aparecem com frequência na pintura de todos os tempos. Na Bíblia, o anjo Gabriel é o anunciador da boa nova à Maria, ela será mãe de um filho e este filho é o Messias que vem para salvar o mundo. Marc Chagall (1887/1985), pintor de origem judaica, gostava de desenhar e pintar seres alados, semelhantes a anjos. Paul Klee(1879/1940) pintava anjos sob uma perspectiva surrealista /expressionista.
É famoso seu trabalho Angelus Novus, um anjo de olhar assombrado, boca escancarada e de asas abertas. Para Walter Benjamin, filósofo e estudioso da pintura de Klee, este anjo está associado ao Anjo da História e passa a imagem de “mensageiro”.
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Voltemos aos anjos de Alan. O artista / poeta vem de uma família de artistas e pintores. São cinco irmãos, todos se dedicam à arte da pintura, mas cada um tem uma maneira peculiar de externar sua arte.
Alan pinta anjos sem rosto definido, as auréolas e as asas estão sempre presentes. Ele está mais interessado no aspecto sugestivo e simbólico dessas imagens.
Já sabíamos de sua veia artística na pintura e na música, aqui ele também se revela na arte da linguagem com a inclusão de vários poemas, pediu a colaboração de um amigo fraterno para enriquecer o aspecto literário da obra. Dorian Dorison (heterônimo do poeta) colaborou com 22 poemas, Alan escreveu 25
O livro se compõe de pinturas e poemas, é um livro de arte em mão dupla. A pintura e a poesia convivem fraternalmente, formam um segundo tom, O livro se compõe de pinturas e poemas, é um livro de arte em mão dupla. A pintura e a poesia convivem fraternalmente, formam um segundo tom, um contraponto, um enlace harmonioso entre duas artes que se complementam. Os poemas de Dorian Dorison são mais complexos, com linguagem erudita, Alan fez a opção por uma linguagem mais rimada, mais musical.
Cada pintura vem acompanhada de uma interpretação do autor e traz um poema de Alan ou de Dorian Dorison. Essa interpretação da obra pode suscitar outras interpretações. A verdadeira obra de arte é uma obra aberta sujeita a interpretações múltiplas.
Chama a atenção do leitor os títulos dados para a divisão dos trabalhos: Anjos fragmentados, Natureza fragmentada, Pessoas fragmentadas, Mente fragmentada. Observa-se que parte do mais etéreo (anjos) para o mais humano – pessoas e mentes. Atente-se, ainda, para o emprego do vocábulo “fragmento”, algo que se quebrou, que se partiu, o que faz lembrar versos do poema Apontamento, de Fernando Pessoa: “A minha alma partiu-se como um vaso vazio […] Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso”.
Os anjos pintados por Alan carregam o simbolismo do que se passa no seu íntimo, são fragmentos de uma mente dividida entre o Ser e o Parecer, entre o que está escondido na pintura e nas tessituras das palavras. É o não dito, o que sugere, o que leva a pensar.
O livro se fecha com fotos de seus familiares, fotos tiradas na sua infância, cercado pelo carinho dos pais e dos irmãos. Não falta o registro fotográfico de exposições, de Solange e das cachorrinhas Mika e Ariana.
Contemplação I
Universo Particular
A expressão criativa sempre desempenhou um papel importante em sua vida. Cerca de onze anos atrás, Alan começou a experimentar e explorar visualmente as relações entre formas geométricas e cores vibrantes. Desses experimentos surgiu a sua mais conhecida Série: Anjos Fragmentados. É a partir de arranjos intuitivos que as cores e formas geométricas ganham vida em seus trabalhos artísticos.