Quando a guerra não tem fim: um mergulho profundo na história e nos ecos do Iraque contemporâneo

Falar sobre o Iraque costuma evocar imagens de guerras intermináveis, invasões estrangeiras e grupos armados rotulados como terroristas. Mas reduzir essa localidade milenar a esses marcos recentes é perpetuar um retrato fragmentado e estereotipado. Em Quando a guerra não tem fim, convido o leitor a ultrapassar os limites da cobertura midiática convencional e mergulhar nas camadas históricas, políticas e simbólicas que moldam o Iraque - ontem e hoje.
O território que hoje conhecemos como Iraque é herdeiro de um passado grandioso. Foi ali, entre os rios Tigre e Eufrates, que floresceram civilizações como os Sumérios, Acádios, Assírios, Babilônicos e Abássidas - nomes que não apenas marcam a História da humanidade, mas que ajudaram a construí-la. Conhecida como Mesopotâmia, essa região é o “Berço da Civilização”, lar de importantes sítios arqueológicos e centro de inovações políticas, sociais e culturais que ecoam até os dias atuais. Durante séculos, fez parte de impérios como o Otomano, até ser abruptamente redesenhada por mãos coloniais europeias.
A partir da década de 1910, o Iraque passou a ser objeto de intensas disputas geopolíticas que o colocariam no centro de uma longa e dolorosa trajetória de intervenções externas. A imposição britânica de fronteiras artificiais e de uma monarquia estrangeira lançou as bases de uma instabilidade que persiste até hoje. O país foi sucessivamente ocupado, explorado e redesenhado ao sabor de interesses internacionais - sobretudo ocidentais.
Já o conflito de 1990-1991, mais conhecido como a Primeira Guerra do Golfo, representa um marco decisivo nessa trajetória. Ao contrário do que muitos imaginam, não se tratou de um episódio isolado, mas de uma peça-chave em um ciclo de violência que se aprofundaria com a invasão de 2003 e os desdobramentos da chamada Guerra ao Terror. Cada conflito abriu novas fraturas internas, enfraqueceu as estruturas estatais e impactou diretamente a vida cotidiana da população iraquiana - que, décadas depois, ainda sofre as consequências dessas intervenções.
Foi esse panorama denso e multifacetado que me motivou a escrever Quando a guerra não tem fim. Mais do que apresentar uma cronologia de conflitos, o livro propõe uma leitura crítica da construção do Iraque moderno, da instrumentalização política da guerra e dos discursos que sustentam determinadas narrativas no cenário internacional. A proposta é explicar esse contexto de forma clara e acessível, sem abrir mão do rigor do pensamento científico.
No caso do Iraque, a guerra não termina com o cessar-fogo. Ela deixa rastros sociais, econômicos, psicológicos e simbólicos. Quando a guerra não tem fim é, portanto, um convite à reflexão: sobre o passado, mas sobretudo sobre o presente e o tipo de futuro que estamos - ou não - ajudando a construir.
Texto autoral.
