Quais barreiras precisam ser quebradas para o mercado editorial decolar no Brasil?

Este texto explora as barreiras enfrentadas pelos escritores que desejam publicar seus livros no mercado editorial tradicional. Geralmente, o escritor precisa encontrar uma editora que acredite em sua obra, o que é difícil, pois as editoras lidam com investimentos de alto risco, sem garantia de vendas, e são obrigadas a arriscar somente naquilo em que acreditam. Isso desestimula novos escritores a ingressar no mercado e diminui a oferta de novos títulos, além de marginalizar pessoas sem as condições socioeconômicas e culturais exigidas pelo mercado. Porém, a tecnologia oferece alternativas, como plataformas de publicação e venda de livros físicos sem custo para o escritor, e eventos que estimulam a leitura e redução da carga tributária podem ajudar a melhorar a situação. O texto mostra que quem deseja publicar um livro não deve desistir, e que é possível superar as barreiras impostas pelo mercado editorial tradicional.

Por Betinho Saad

Muitas pessoas sonham em publicar um livro, compartilhar suas histórias, teses e ideias com o mundo. No entanto, a realidade do mercado editorial tradicional impõe uma série de barreiras para quem tem esse desejo. Na maioria das vezes os manuscritos são rejeitados, levando a um verdadeiro calvário atrás de alguma editora que aceite publicá-los. Os ganhos oriundos dos direitos autorais são baixos e quem não tem condições socioeconômicas encontra barreiras ainda maiores.

Boa parte destas questões se deve ao fato de que o modelo de negócio de publicação de livros tem alguns problemas. Normalmente, o escritor realiza uma busca ativa por uma editora que se interesse pelo seu conteúdo que produziu, acredite nele e possa realizar o investimento para publicar. Já as editoras, por lidarem com investimentos de alto risco – afinal, a maioria das obras se torna um best-seller – incluindo custos com produção e logística, sem ter garantia de vendas, são obrigadas a arriscar somente naquilo em que acreditam, de forma a tentar minimizar um pouco o risco.

Desta forma, novos escritores são desestimulados a escrever e ingressar nesse mercado, pois as chances de sucesso são pequenas, com alto índice de rejeição de novos conteúdos. Faltam oportunidades e inclusão, a oferta de novos títulos diminui, o produto final se torna mais caro e os valores pagos a título de direitos autorais são baixos. Todos perdem.

Isso sem contar que quem não tem as condições socioeconômicas e culturais exigidas pelo mercado será, provavelmente, marginalizado. Uma pessoa sem estudos, de origem humilde, pode ter alguma história ou uma experiência maravilhosa para dividir com o mundo, mas nunca, no mercado tradicional, terá uma porta aberta, por uma questão de risco x retorno. O livro “Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus, foi publicado porque o renomado jornalista Audálio Dantas a descobriu em 1958. Imaginem se tivéssemos perdido uma obra dessa magnitude para as desigualdades e injustiças do mercado editorial.

Mesmo o escritor que se aventura a tentar publicar sua obra tem dificuldade de encontrar uma editora que acredite nele. E, mesmo que encontre alguma, isso não significa reconhecimento ou sucesso financeiro. Afinal, mesmo que ocorram muitas vendas, o que é raro, os valor pagos em direitos autorais não são significativos de fato. Isso vale mesmo para escritores reconhecidos. Os ganhos com direitos autorais dificilmente oferecem uma mudança de vida, já que no mercado tradicional os valores pagos em direitos autorais giram em torno de 5%.

Para se ter uma ideia de como é difícil ter um livro publicado em uma editora tradicional, somente 1 a cada mil livros apresentados às editoras é levado a sério para ser publicado. Milhares de best-sellers foram rejeitados inúmeras vezes, como a saga “Harry Potter”, de JK Rowling, que recebeu “nãos” de 12 editoras diferentes e até hoje já vendeu quase meio bilhão de cópias. O mesmo aconteceu com outras obras, como “E O Vento Levou”; “Alice No País Das Maravilhas”; “Em Busca do Tempo Perdido”; “Carrie, A Estranha” e, até mesmo, “O Diário de Anne Frank”.

Essas rejeições mostram que as editoras imaginam saber o que o mercado deseja, mas a verdade é que ninguém sabe. Isso mostra que quem deseja publicar não deve desistir.

Hoje já é possível contar com diferentes alternativas. A tecnologia oferece a solução para o mercado editorial, pois viabiliza a evolução e o surgimento de novos modelos de negócios que consigam absorver a demanda e corrigir as imperfeições do mercado editorial tradicional. É possível encontrar plataformas únicas de publicação, venda, produção e distribuição de livros físicos, sem custo para o escritor, como a UICLAP, em diversos países desenvolvidos. Assim, em um único ambiente, todos conseguem publicar a versão física do seu livro em tempo real – e o mais incrível: sem custo nenhum. A obra publicada entra para a venda e é produzida somente quando há compra, sem criação de estoque, evitando desperdícios e contribuindo com o meio ambiente. O próprio escritor escolhe o valor a receber por exemplar vendido.

Além disso, é preciso estimular a leitura, o que em boa parte depende da realização de mais investimentos por parte dos governos. Eventos, como feiras e festivais, a redução da carga tributária e, naturalmente, o fortalecimento da educação por meio de investimentos assertivos, são essenciais para estimular o surgimento de novos leitores e autores.

*Betinho Saad é fundador da UICLAP. Formado em Administração de Empresas, com pós-graduação em Gestão Contábil e Financeira, atuou por quase 10 anos no ramo do entretenimento, em casas noturnas. Trabalhou na gestão de um hospital, onde permaneceu por mais de oito anos. Após um período no Canadá, retornou ao Brasil e criou a UICLAP em 2019, junto com Rui Kuroki, ao enxergar as principais dores e oportunidades do mercado editorial.

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