Leonardo Abrahão e Valéria Ribeiro na XV Bienal Do Livro PE: quando psicologia, literatura e propósito se encontram

Leonardo Abrahão e Valéria Ribeiro na XV Bienal Do Livro PE: quando psicologia, literatura e propósito se encontram

A XV Bienal do Livro de Pernambuco foi palco de encontros, emoções e muitas histórias inspiradoras, e entre elas, uma se destacou pela sensibilidade e propósito. A Editora VALLEO!, parceira da UICLAP, levou ao evento um grupo de psicólogas escritoras que transformam suas vivências e conhecimentos em livros que tocam o coração e despertam reflexões sobre o cuidado com a mente e com as emoções.

À frente dessa iniciativa estão Leonardo Abrahão e Valéria Ribeiro: ele, psicólogo, escritor, palestrante e criador da Campanha Janeiro Branco — o movimento brasileiro que se tornou Lei Federal (Lei nº 14.556/23) e que tem levado o tema da saúde mental para o centro das conversas em todo o país; ela, psicóloga, mãe, escritora e palestrante também dedicada à causa da saúde mental em todos os espaços e todas as dimensões nas quais os seres humanos se fazem presentes.

Durante a Bienal de Pernambuco, Leonardo, Valéria e a Editora VALLEO! representaram a UICLAP com uma presença marcante, mostrando que escrever também é um ato de cuidado e que os livros podem ser instrumentos poderosos de transformação pessoal e coletiva.

Nesta entrevista exclusiva para o Blog da UICLAP, Leonardo e Valéria falam sobre sua trajetória, o papel dos livros na promoção da saúde mental, a fundação da VALLEO! e o impacto de ver ideias ganharem vida nas páginas e nas mãos dos leitores.

O grupo de psicólogas escritoras da Editora VALLEO! tem contribuído muito para ampliar o debate sobre saúde mental. Como nasceu essa iniciativa de unir psicologia e literatura?

Leonardo Abrahão:  Essa iniciativa nasceu de uma compreensão muito clara de que o mundo precisa, urgentemente, de mais espaços de reflexão sobre o que é ser humano — e de que nem todos esses espaços precisam, ou podem, estar dentro de consultórios ou universidades. A ideia de criar a Editora VALLEO! surgiu do desejo de abrir caminhos para que pessoas maduras, sensíveis e comprometidas com a vida — sejam psicólogos, médicos, professores, gestores, mães, artistas ou qualquer pessoa que carregue experiências e sabedorias capazes de enriquecer a humanidade — pudessem transformar suas vivências em palavras que inspirem e eduquem emocionalmente o leitor. A literatura tem esse poder: traduzir o invisível, tornar compreensível aquilo que sentimos e nem sempre sabemos nomear. A VALLEO! nasceu, portanto, como um projeto de humanização pela palavra, um espaço em que psicologia, filosofia, arte, espiritualidade e cotidiano se encontram para promover aquilo que chamo de letramento emocional da humanidade.

Valéria Ribeiro:  A ideia de unir psicologia e literatura nasceu também de uma intuição muito forte: a de que o cuidado pode assumir muitas formas, inclusive a forma de um livro. A cada página escrita, nós, autores da VALLEO!, procuramos tocar o outro com empatia, com escuta e com o desejo de transformar o conhecimento em acolhimento. Eu costumo dizer que um livro é uma extensão do olhar do autor — e o nosso olhar está voltado para o humano, em todas as suas nuances. Por isso, desde o início, quisemos que a editora fosse mais do que uma casa editorial: que fosse um lugar de encontros entre pessoas que acreditam no poder das palavras como sementes de consciência, transformação e pertencimento.

Na opinião de vocês, de que forma escrever e publicar pode ser uma ferramenta de autocuidado e transformação, tanto para quem escreve quanto para quem lê?

Leonardo Abrahão:  Escrever é uma forma de elaborar a vida, de colocar em ordem o que nos atravessa e, ao mesmo tempo, de oferecer ao outro uma trilha de compreensão e pertencimento. Quando alguém escreve com responsabilidade, honestidade e maturidade — partindo da própria experiência, de suas dores, superações ou aprendizados —, essa pessoa está, sem perceber, cuidando de si e dos outros. O ato de escrever é, em si, uma forma de cuidado e de atenção. E quando o texto chega às mãos do leitor, ele continua esse processo de acolhimento, de partilha, de comunhão. Por isso, costumo dizer que um livro é sempre uma forma de diálogo entre almas. Publicar é permitir que esse diálogo se amplie, que ele alcance pessoas que talvez jamais teriam acesso a um atendimento psicológico ou a um espaço de escuta. A escrita responsável e sensível é, assim, uma ponte de acolhimento e um instrumento de alfabetização emocional — porque ensina as pessoas a olharem para dentro de si, a nomearem o que sentem e a compreenderem melhor o que vivem.

Valéria Ribeiro:  Para mim, escrever é uma forma de cuidado silencioso. É quando a alma encontra palavras para aquilo que, por muito tempo, viveu no território das emoções. Quando escrevemos sobre o que aprendemos com a vida, sobre o que sentimos, sobre as nossas relações, abrimos uma brecha por onde o amor e a consciência podem passar. E o leitor percebe isso. Ele se identifica, se vê, se acolhe. Escrever e publicar são gestos de coragem e de generosidade — coragem de se expor com autenticidade e generosidade de se colocar a serviço do crescimento do outro. É o encontro de duas humanidades: a do autor e a do leitor.

Qual foi a experiência de participar da Bienal do Livro de Pernambuco, representando a UICLAP através da Editora VALLEO! e desse grupo de autores?

Leonardo Abrahão:  A Bienal de Pernambuco foi uma experiência profundamente simbólica, porque ali vimos a vida acontecendo por meio das palavras. Estávamos cercados por autores que, mais do que escrever livros, estavam oferecendo ao público gestos de humanidade. O estande da VALLEO! se tornou um espaço vivo de encontros — onde leitores e autores se olhavam nos olhos, trocavam histórias, compartilhavam lágrimas e sorrisos. Representar a UICLAP foi um motivo de orgulho, porque essa parceria mostra que a democratização da escrita e da publicação é uma revolução cultural em curso. A escrita deixa de ser privilégio e passa a ser um exercício de cidadania emocional, acessível a quem tem o que dizer e o faz com compromisso ético e humano.

Valéria Ribeiro:  Para mim, a Bienal de Pernambuco foi uma celebração da coragem. Vi autores que nunca imaginaram publicar um livro serem abraçados por leitores profundamente emocionados. Foi como assistir à prova viva de que todo ser humano tem algo valioso a dizer. O público se encantava ao descobrir que os autores da VALLEO! eram profissionais, mães, pais, pessoas comuns — mas com histórias extraordinárias. A Bienal mostrou que a literatura pode ser um espelho e, ao mesmo tempo, uma janela: espelho, porque reflete o que somos; janela, porque amplia o horizonte de quem lê e de quem escreve.

Como vocês veem o papel das Editora VALLEO! e plataformas como a UICLAP na democratização da publicação e da voz de novos escritores?

Leonardo Abrahão:  Vejo como uma das mais belas expressões da maturidade social e cultural do nosso tempo. A VALLEO! e a UICLAP estão quebrando paradigmas ao mostrar que não é preciso ser uma celebridade ou ter grandes recursos para publicar uma obra significativa. O que importa é ter conteúdo, propósito e responsabilidade com o leitor. A missão da VALLEO! é abrir espaço para que novas vozes possam se manifestar — vozes que vêm de lugares diversos, de vidas reais, de quem vive o dia a dia, enfrenta dores, constrói afetos e quer partilhar suas compreensões. Mas há um detalhe essencial: todos os livros da VALLEO! passam por uma curadoria cuidadosa, tanto técnica quanto teórica, que busca garantir não apenas qualidade literária, mas, sobretudo, qualidade humana. Nós cuidamos para que cada obra leve ao leitor informações seguras, coerentes e inspiradoras, sem jamais perder o tom ético, compassivo e transformador que define o espírito da editora.

Valéria Ribeiro:  Eu gosto de pensar na VALLEO! como uma casa que acolhe vozes diversas, mas com um mesmo propósito: o de contribuir para a elevação da consciência humana. A UICLAP, com sua tecnologia acessível, torna esse processo democrático e viável; e a VALLEO! acrescenta a isso o toque humano, o olhar clínico e sensível sobre o que está sendo dito. Nosso compromisso é com a entrega de uma literatura que emociona, mas também educa — que desperta, mas também orienta. Cada livro é lido, analisado e cuidado com a atenção de quem entende que, mais do que letras, estamos colocando em circulação afetos, saberes e responsabilidades.

Há algum momento marcante ou história que vocês viveram com um leitor ou autora da VALLEO! que simbolize o propósito desse trabalho coletivo?

Leonardo Abrahão:  Há muitos, mas um em especial me toca até hoje. Uma leitora me contou que, após ler o livro de uma das nossas autoras, finalmente conseguiu compreender algo sobre sua própria vida que carregava como peso há décadas. Ela disse que se sentiu “vista” e “entendida” por alguém que nunca tinha encontrado pessoalmente. Isso resume o que buscamos: que o leitor se reconheça, que perceba que sua dor tem nome, que sua história importa, que há saída, que há esperança. Quando isso acontece, o livro deixa de ser apenas um objeto e se torna uma experiência de cuidado, acolhimento e suporte à (re)elaboração de quem busca ajuda, de quem deseja compreender a si mesmo e seguir em frente com mais leveza e sentido.

Valéria Ribeiro:  Um dos momentos mais marcantes que vivi na Bienal aconteceu de maneira muito simples, mas profundamente significativa. Um jovem adulto se aproximou do estande da VALLEO! e me contou que havia sido diagnosticado com autismo há alguns anos. Ele disse que parou ali porque se sentiu representado pela diversidade de obras sobre saúde mental que encontrou expostas — títulos que abordavam sentimentos, identidade, empatia, pertencimento. Ficamos conversando longamente, e aquela conversa se transformou em um encontro de reconhecimento mútuo. Ele me falou sobre as dificuldades que enfrenta, sobre os estigmas que ainda o ferem, e sobre como era raro ver um espaço literário tratar esses temas com respeito e sensibilidade.

Eu o ouvi com atenção e gratidão, porque aquele momento resumiu exatamente o propósito da VALLEO!: ser uma editora que acolhe, escuta e legitima diferentes experiências humanas. Quando ele se despediu, me agradeceu por “ter feito daquele estande um lugar onde ele se sentiu em casa”. Essa frase ficou comigo. E é isso que me move — saber que, através dos livros, podemos construir espaços simbólicos e reais de pertencimento, onde as pessoas se reconhecem, se respeitam e se sentem parte de uma humanidade que, aos poucos, aprende a se olhar com mais empatia.

Que conselhos vocês dariam para psicólogos, ou qualquer profissional,  que sonham em transformar sua experiência em livro, mas ainda não se sentem prontos para escrever?

Leonardo Abrahão:  Eu diria que a prontidão não é um ponto de partida, mas um resultado. A gente se sente pronto quando começa. A escrita é um processo de autodescoberta, e o texto vai amadurecendo junto com o autor. Então, o meu convite é: comece. Escreva com o coração aberto, com humildade e com o desejo sincero de contribuir para o bem coletivo. Não é preciso ser um “escritor” no sentido tradicional — é preciso ser alguém disposto a refletir sobre a vida e a oferecer essas reflexões ao mundo. As histórias humanas, quando narradas com verdade, tornam-se ferramentas poderosas de acolhimento e de apoio à (re)elaboração emocional. E, num tempo de tanto ruído, quem escreve com propósito oferece silêncio, clareza e sentido.

Valéria Ribeiro:  Eu diria: escreva sem medo e com amor. Não espere ser perfeita, nem dominar a técnica literária antes de começar. Escreva como quem conversa, como quem deseja que o outro compreenda e sinta. Cada linha é uma semente. E quando você escreve com propósito, a própria vida se encarrega de regar e fazer florescer o que foi plantado. É bonito ver pessoas comuns descobrindo que suas histórias têm poder, que suas vivências podem oferecer cuidado e suporte a outras pessoas. O livro, nesse sentido, é uma forma de serviço à vida e ao fortalecimento da condição humana.

Quais são os próximos passos da Editora VALLEO!? Podemos esperar novas publicações, projetos ou eventos?

Leonardo Abrahão:  Sim, muitos. A VALLEO! está em um momento de expansão vibrante. Depois da Bienal de Pernambuco, estamos preparando novas coleções e obras que dialogam com temas como saúde mental, educação emocional, espiritualidade, ética e sustentabilidade das relações humanas. Também estamos desenvolvendo mentorias literárias e grupos de escrita para ajudar pessoas a tirarem suas ideias do papel e transformarem suas experiências em livros de impacto. Queremos continuar formando uma comunidade de autores comprometidos com o avanço da consciência humana — e não apenas com a produção de livros, mas com a construção de uma nova cultura do cuidado e do acolhimento.

Valéria Ribeiro:  A próxima etapa é ampliar os horizontes da VALLEO!, fortalecendo os encontros entre os autores e o público, investindo em formações e rodas de conversa sobre escrita e emoções. Queremos que nossos livros estejam em escolas, empresas, comunidades, que cheguem a quem mais precisa aprender sobre si. E queremos seguir participando das Bienais, levando conosco essa ideia de que escrever é uma forma de cuidar — e que cuidar é, acima de tudo, um ato de amor.

A participação da Editora VALLEO! na Bienal do Livro de Pernambuco foi um sucesso e emocionou o público. Podemos esperar o mesmo brilho, e talvez novas surpresas, na Bienal Internacional do Livro de São Paulo 2026, agora no estande da UICLAP?

Leonardo Abrahão:  Sem dúvida. A Bienal de São Paulo será um novo capítulo dessa história que estamos escrevendo juntos. Estaremos novamente ao lado da UICLAP, fortalecendo essa aliança que tem permitido dar voz a tantas pessoas inspiradoras. Queremos levar para São Paulo ainda mais diversidade, mais obras, mais encontros e mais emoção. Será um espaço de celebração da palavra viva — a palavra que acolhe, que educa, que desperta e que transforma. Tenho certeza de que será uma experiência inesquecível, e que mais uma vez o público sentirá o que sentimos em Pernambuco: a convicção de que escrever é um gesto de amor pela humanidade.

Valéria Ribeiro:  E será também uma oportunidade de mostrarmos que o cuidado pode ser coletivo. Na Bienal de São Paulo, queremos criar um espaço que una a leveza da arte, a profundidade do pensamento e a força da empatia. Vai ser uma grande celebração da escrita como ato de cuidado, e do leitor como parte essencial desse processo. Porque, afinal, cada pessoa que lê também escreve a sua própria história, a partir do que aprende e sente.

Ao ouvir Leonardo Abrahão e Valéria Ribeiro falarem sobre saúde mental e literatura, fica claro que escrever é mais do que uma expressão artística, é um gesto de cuidado. Cuidado com quem lê, que encontra nas páginas um espaço de acolhimento e reflexão. E cuidado com quem escreve, que transforma experiências em pontes de empatia e aprendizado. A participação da Editora VALLEO! na Bienal do Livro de Pernambuco, em parceria com a UICLAP, mostrou que a escrita pode e deve ser um instrumento de impacto social. Cada livro publicado, cada história compartilhada e cada conversa iniciada sobre emoções e bem-estar é um passo a mais na construção de uma sociedade mais consciente e humana. Que o exemplo de Leonardo, Valéria e das autoras da VALLEO! inspire outros profissionais, escritores e leitores a entender que palavras também educam, inspiram, libertam e curam!