Cidade decadente: personas – Um livrinho decadente em sua essência
Personagens esquisitos e histórias sem grandes reviravoltas não são novidades para literatura tal como a conhecemos hoje, por isso penso que não há termo em nossa comunicação que retrate melhor a nossa condição e atual situação que o “decadente”.
Ser decadente é estar em movimento, um movimento imoral que independe do julgamento alheio para existir, logo, todo mundo, eu, você, seus amores e seus desafetos uma hora ou outra terão que lidar com a decadência impregnada na nossa raça contraditória.
O livro de bolso Cidade decadente: personas tem talvez a única e instável ambição de mostrar através das histórias de personagens o nosso ciclo de pequenas vitórias,
monstruosas derrotas e de estável mediocridade. No final das contas, o vencer e o perder se tornam banal e o que sobra é uma apatia que nos leva ao clássico mal-estar da decadência.
Fora essa chatice impregnada em meu caráter, resta a nós, os decadentes, o apelo à arte, ao livro e seus encantamentos. Só ela, só a arte nos dá a possibilidade de refletir e ruminar com profundidade esse sentimento, porque pior que uma pessoa decadente é uma pessoa que ignora essa ideia, ignorante por excelência.
A decadência não tem cura e se eu me propus a escrever sobre ela, enfatizando geograficamente uma cidade fictícia como cenário de algumas anomalias humanas, é por pura tentativa de conter os danos inapagáveis dela em mim e tentar estimular outras pessoas, por meio da literatura, a se aceitarem enquanto bichos com defeitos de fábrica.
Por fim, para esbanjar cultura e maquiar a minha decadência latejante, recito uma frase de consolo de Clarice Lispector: Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.
Aceite, ou melhor, acostume-se aos seus defeitos e venha ler um livrinho de contos que é decadente, aborda sobre decadência e repele quem muito se leva a sério.
Marcos Souza