A VIDA DO PSICANALISTA NÃO É COR-DE-ROSA

A VIDA DO PSICANALISTA NÃO É COR-DE-ROSA

ESTUDOS DE CASOS CLÍNICOS DE ATENDIMENTOS PSICOLÓGICOS NO SISTEMA PRISIONAL

Meu livro foi publicado em junho de 2023 pela editora UICLAP e traz relatos de estudos de casos clínicos, oriundos do meu trabalho como psicóloga, no sistema prisional, ao longo de 14 anos. Este trabalho consiste na escrita de artigos. Os artigos foram estruturados em partes: revisão teórica, com base na teoria psicanalítica, descrição e contextualização dos casos clínicos, análise de casos e, conclusão.

A contextualização dos casos exclui o nome da pessoa/empresa ou casa prisional. Os nomes são fictícios. Exclui também datas, lugares e outras situações que possam tornar possível a identificação dos sujeitos estudados. Todos os artigos foram submetidos a revisão técnica e gramatical e, os casos clínicos à supervisão. Os analisantes foram consultados e concordaram em assinar o Termo de Livre Consentimento, onde consta a autorização para a publicação de sua história, bem como as condições para tanto. No caso do trabalho prisional realizado em uma empresa privada, foram suficientes os Termos de Audiências e, a proposta de abertura de convênio da empresa em questão com a SUSEPE, por serem documentos públicos. A proposta deste livro foi submetida ao comitê de ética da SUSEPE, à Escola do Serviço Penitenciário, à Delegacia Regional Penitenciária, à Coordenação Técnica e à Direção da Casa Prisional de onde foram oriundos os casos estudados.

O estudo de caso é um método de pesquisa baseado em uma perspectiva qualitativa, considerada mais adequada para o estudo de realidades sociais. Tem por objetivo explorar, descrever e estudar estas realidades. No caso do livro,
estas realidades consistem em situações de sofrimento, de pessoas em atendimento psicológico, agravadas pelo contexto do cárcere. O livro implica em um entendimento de que a prática da psicanálise no contexto prisional é possível, apesar do ambiente de punição, porque sua ética se sustenta em não abrir mão do desejo de ouvir o que o outro tem a dizer.

No contexto do discurso de Lacan, podemos enquanto analistas, compreender o que a implicação com a ética da psicanálise impõe: é preciso que o analista engula, durante dias inteiros, coisas ditas de valor seguramente duvidoso, e bem mais ainda do que para ele mesmo, para o sujeito que a ele as comunica. Esta é uma questão que o analista está habituado a superar no exercício de sua prática. E, bem mais do que estar habituado, simplesmente já aboliu dentro dele.

O meu livro vem retratar outra realidade: a simbolização do sofrimento humano através da dialética da fala, falar/se ouvir falar. O trabalho do livro foi dedicado aos apenados, por compartilhar suas histórias de vida nele estudadas.

Silvana Aparecida Desordi - autora.